quinta-feira, 29 de julho de 2010

"Desistir" e "deixar ir" são coisas muito diferentes


Demorei um certo tempo até entender que o desistir e o deixar ir são coisas bem diferentes.

Não é porque desejo que ele seja feliz com outra que eu to deixando de gostar ou estou esquecendo. É o fato dele merecer se feliz e eu também. O bom pra mim nem sempre é o bom pro outro.

A gente precisa viver muito, conhecer muita gente até dizer que aquela é a pessoa! É por isso que o outro precisa ir, viver, experimentar, porque quando for a hora, ele volta.

Eu não o esqueci, apenas o deixei ir! Fico mais tranquila comigo pensando assim.


Carolina Tardivo

domingo, 18 de julho de 2010

O que não falei.

Oi Gabriel, estou aqui, escrevendo covardemente este e-mail, porque não teria coragem de dizer na nossa próxima consulta. Acontece que não dá mais pra eu ser sua psicóloga, não posso mais ouvir você reclamar da vida e principalmente, da sua mulher.

Eu com todo o meu profissionalismo, não devia deixar isso acontecer, mas aconteceu e eu to aqui te pedindo pra não voltar mais porque estou APAIXONADA por você.

Sempre me achei habilitada para essa função, mas agora me peguei aqui, infantil, confusa e o pior, despreparada! Não pense você que estou feliz, sou terapeuta há 5 anos e isso nunca me aconteceu. Eu sei que nós não temos o controle de tudo na vida, mas ainda sim, estou em choque comigo.

Eu ando sonhando com você, e até acho que chamo seu nome na madrugada, mas não se preocupe, moro sozinha e tenho certeza que não grito dormindo. Olha, pra ser sincera, eu devia ter acabado com isso há muito tempo, mas eu não acreditava que era possível. Ontem que veio a confirmação, morri de ciúmes quando você contou da sua noite maravilhosa com ela. Me contorci na cadeira pra não dizer nada...

Mas então, procure outra psicóloga, porque comigo não dá mais!

P.S: Pensando bem, não estou sendo tão covarde quanto eu achei, estou te explicando o porquê não posso mais atendê-lo.
Ah, caso queira me procurar pra outras coisas, você tem meu telefone.

Carolina Tardivo

quarta-feira, 14 de julho de 2010

O meu corpo vai dançar sem parar...

Vocês precisam saber.

Eu nunca quis morrer, sempre evitei pensar nisso, talvez porque eu não tenha perdido alguém próximo demais, ou até porque, nunca vi a morte de perto como dizem por aí... A verdade é que eu amo viver, amo cada segundo dessa minha vida que na maioria das vezes é monótona, mas que é minha.

Andei pensando o que eu ia querer que fizessem comigo depois que o meu fim chegasse e decidi que, várias coisas serão feitas comigo e por mim. Se alguém quiser me ver feliz depois de morta, faça o que eu vou falar!

Pra começar, eu quero ser cremada, até aí tudo bem, não é?! Mas o que fazer com as minhas cinzas?!

Então, quero que elas sejam jogadas um pouquinho em cada lugar, o primeiro pouquinho eu quero que seja numa praia bem bonita e tranquila que eu ainda não conheci, quando isso acontecer eu aviso!

O outro pouquinho eu espero que vocês joguem numa cachoeira, que tenha muita paz e nada de desmatamento por perto (será que daqui uns 70 anos isso será possível?).

Um outro punhado de mim eu quero que seja jogado numa Igrejinha em Niterói, é nela que eu vou casar e começar a construir o que há de mais importante na vida de um ser humano, uma família!

E mais um pouquinho, mas bem pouquinho mesmo, no pé de uma árvore bem florida e que dê muita sombra.

SE sobrar algo, eu quero que deixem no restaurante Lucca onde tem o petit gateau mais gostoso que já comi. Só peço que sejam discretos pra não arrumarem confusão, hein!?

A minha única intenção é vocês que lembrem de mim com alegria, que saibam da minha preferência pelo petit gateau, da paixão que eu sinto cada vez que eu olho o mar, da minha vontade de ver um mundo ecologicamente correto, se é que isso seja possível, da minha vontade de crescer e ficar forte como uma árvore, da tranquilidade que eu sinto em fluir como uma cachoeira e da fé que eu tenho...

Carolina Tardivo

sábado, 3 de julho de 2010

Beleza cansa

Ela não garante o interesse de ninguém no longo prazo

Vivemos num mundo obcecado pela beleza humana. Ela está na televisão, nos filmes, na capa das revistas, no balcão das lojas do shoping e no restaurante descolado, onde garçons e garçonetes parecem todos modelos.

A beleza nos é oferecida em doses enormes, em vários formatos, para todos os gostos e gêneros. Há loiras altas, morenos fortes, jogadores de pernas grossas e cantoras de barrigas impecáveis. A beleza nos enche os olhos. É um colírio grátis, permanente e intoxicante.

Num ambiente desses, talvez seja inevitável imaginar que beleza é a coisa mais importante do mundo – em nós e nos outros.Essa ilusão circula amplamente por aí, por um motivo simples: a beleza atrai a atenção das pessoas como talvez só a violência consiga com a mesma intensidade.

Diante de uma cena de agressão ou de uma ameaça de agressão, os nossos sentidos se crispam. Quando uma mulher bonita entra pela porta (imagino que um homem bonito cause o mesmo efeito), as sensações também se alteram, mas desta vez na direção do prazer.

A beleza nos torna atenciosos e solícitos, ao menos por algum tempo. É por isso que ela funciona tão bem nos filmes, nas novelas, na publicidade. O prazer de olhar seqüestra os nossos olhos e monopoliza a nossa atenção. Na outra direção, ela dá às pessoas bonitas a certeza de que serão notadas – e a ilusão de que serão amadas.

Mas isso é totalmente bobagem, não é? Todo mundo sabe, ou deveria saber, que a aparência tem um papel importante mas limitado nas relações humanas.

Pense no caso da moça bonita que começou a trabalhar no escritório. Na primeira semana não se fala de outra coisa. Ela é um objeto que os olhos devoram incansavelmente. Passados uns dias, as pessoas se acostumam e o fascínio diminui, até que ela se torne como as outras, uma pessoa normal. Se a moça for uma chata, uma boba, ou uma mosca morta, o processo de “normalização” é ainda mais rápido.

Isso acontece porque, na vida real, nós fazemos contato com a totalidade das pessoas: seus sentimentos, seus modos, sua inteligência, seu humor, seu charme ou sua integridade. As relações humanas reais formam uma teia densa, complexa, na qual a beleza é apenas um componente - relevante, mas não absoluto.

É possível colocar um planeta inteiro apaixonado pela Shakira ou pelo Tom Cruise porque ninguém tem contato com eles. São apenas imagens bonitas, nas quais as pessoas projetam qualquer tipo de sentimento. Mas ponha o Reynaldo Gianecchini ou a Sabrina Sato para trabalhar na mesa ao seu lado. Em uma semana você vai estar reclamando de que ela ri muito alto ou que ele é folgado e se espalha demais para sentar. De perto, todo mundo é meio mala.

E quando se trata de namorar? Em princípio, claro, todo mundo quer gente bonita. Quanto mais bonita, melhor, na verdade. Mas basta olhar em volta pra perceber que não é nada disso.

Aquele sujeito que faz o maior sucesso com as meninas do trabalho, por exemplo. Ele chega ao churrasco da firma com uma mulher que ninguém acha bonita – mas pela qual ele é maluco. E a moça linda, coitada, que dança miudinho na mão de um namorado esquisito e tirânico que só ela acha irresistível? Claro, há aquela garota da praia, absurdamente sensual, com quem o seu amigo saiu duas vezes e não quis mais nada – e agora é ela quem fica pegando no pé dele.

É isso, não é? Beleza, nas relações amorosas, vai até a página dois ou três. Depois tem de incrementar com outras coisas. Ou acaba.

Olhar para a sua garota e achá-la arrebatadoramente linda tem mais a ver com estar apaixonado por ela do que com o fato de ela ser realmente tão bonita. Se ela fosse apenas bonita e você não gostasse mais dela, o olhar seria outro.

Vale o mesmo das mulheres para os homens. Quando elas dizem que nós somos bonitos, a mensagem realmente importante é: eu gosto de você, eu vejo beleza em você. Eu estou aqui com você há 10 anos, há um ano ou há seis meses e continuo interessada no que você diz e faz, naquilo que você é. Por isso, continuo achando você bonito.

Na vida real, a percepção da beleza é mais importante do que a beleza. E tem a ver com uma monte de coisas, inclusive a aparência.

Invam Martins - editor-executivo da revista Época.