terça-feira, 12 de abril de 2011

Ela só quer brincar

Texto da Tati Bernardi publicado na revista Alfa.


Homens só dão importância a meninas de 22 — que parecem tão legais porque estão dando para outros

Bia ficou hospedada em casa. Irmã de uma amiga, veio estudar moda em São Paulo. Logo conheceu Thiago, garoto lindo de 27 anos. Bia tem 22. Thiago era diretor de planejamento em uma agência de publicidade bacana, tinha dois labradores no apartamento enorme que comprou com o próprio suor e gostava de Los Hermanos, Smiths, Radiohead e Novos Baianos. Na época, conheci Gabriel. Excelente gosto musical, nota 7 em sexo (gostoso mas pouco preocupado comigo) e com a melhor das qualidades: piadista. Adoro homem engraçado. Pirei em Gabriel. Quis casar com Gabriel, mas ele sumiu depois de um mês. Fiquei péssima.

Thiago ligou para Bia insistentemente nas primeiras semanas, depois sumiu. Pensei que Bia daria um trabalhão, chorando pelos cantos de casa, tomando meus calmantes para dormir, comendo meus chocolates. Mas, assim que Thiago sumiu, ela já estava saindo com André. Eu seguia sofrendo por Gabriel. Mandando mensagens para ele. Aumentando a terapia. André tem 30 anos e trabalha no mercado financeiro. Triatleta, fala quatro línguas e, pelo que Bia contava, fazia o melhor sexo oral de sua vida. André a levou a Angra com a família. Encantada, Bia nem se lembrava de Thiago. Sua preocupação era o que fazer com Daniel, o cara que conhecera no curso de moda e que estava enlouquecido de amor. Transava como ele no banheiro da escola. Eu seguia sofrendo por Gabriel. Indo a astrólogas. Pensando em mortes suaves. Comprando roupas, bolsas, joias.

Bia, a essa altura do campeonato, já estava com Pedro, melhor amigo de Daniel. Daniel ligava sem parar, mas sem chance: Bia não gosta que peguem no pé. André estava de férias, só voltaria em 15 dias. Não telefonou, e Bia achou bom porque Thiago tinha reaparecido querendo namorar. Homens adoram mulheres que não dão pela falta deles. Eu seguia sofrendo por Gabriel. Com saudade de seu cheiro, seu jeito de falar sorrindo, de seu pé pequeno, de como espremia os saquinhos de shoyo demoradamente, das crises de ansiedade que o faziam abrir a janela emperrada da área de serviço. Bia começou a namorar Thiago, mas exigiu que fosse sem compromisso. Terminou com Pedro, arrumou uma amiga para o Daniel e teve de dizer não a André. Voltou à sua cidade feliz, leve, jovem, tranquila, desligada, meio burrinha e com corrimento. Segui sofrendo por Gabriel, que certamente pegou horror à minha pessoa intensa, exagerada e maluca. A história acaba aqui, mas tem uma moral. A diferença entre as meninas de 22 e as mulheres de 32 são mais do que dez anos. É o peso que temos. Fazer o quê? Já tive o mundo aos meus pés, como a Bia. Minha curiosidade de provar novos rapazes e meu desapego em construir histórias deixavam apaixonados homens de todas as idades. Hoje, se escolho um homem é porque ele tem importância. Importância que a maioria não está disposta a ter, porque sonha com a Bia: uma menina leve, feliz e desencanada. Meus amores: a Bia só é tão legal porque está dando para outro. Mulher ou está dando trabalho ou está dando para outro.

3 comentários:

  1. gente, acho que tenho 32 anos. Só pode.

    ResponderExcluir
  2. Que isso cara... resumiu perfeitamente! :
    "Mulher ou está dando trabalho ou está dando para outro."

    ResponderExcluir
  3. Chará, que bom saber que você tem um blog, vou te seguir! =) E adorei essa foto do perfil!
    Beijosss

    ResponderExcluir